Com tantas formas de captar uma imagem, uma polaroid é uma das menos convenientes no universo instantâneo. A câmara é grande e não deixa espaço na mala, enquadrar parece impossível e no fim pode nem existir uma imagem.
As inconveniências, o sentir que nada é importante o suficiente para usar a película e o preço exorbitante de cada imagem levaram-me a deixar na gaveta caixas por revelar. Se há algo que não de deve fazer a é esperar demasiado. A embalagem alerta: conservar no frigorífico; usar dentro de seis meses para melhores resultados. E quando não se faz nada disto?
É fascinante o que se passa em cada um daqueles pedaços de papel. Aliás, são bem mais que meros pedaços de papel. A moldura branca tem uma função concreta, não é apenas estética. Existe para, numa pequena bolsa, guardar todos os químicos necessários à revelação da imagem. Antes de existir fotografia, cada polaroid a cores é feita de cerca de 13 camadas diferentes, entre camadas sensíveis às diferentes ondas de luz; espaçadores, reveladores e filme plástico para proteger todas estas dimensões. No momento do disparo, por frações de segundo, a imagem é exposta à camada sensível e, enquanto sai da câmara, atravessa dois rolos que espremem todos os químicos e iniciam a revelação da imagem.
Nos primeiros minutos, o melhor para cada imagem é resguardá-la da luz, precavendo qualquer exposição adicional. Em 2023 convivemos com uma mistura química que não é a mesma de há 30 anos atrás. Essa fórmula tão eficiente perdeu-se quando a empresa faliu. Esta nova fórmula é frágil, mesmo as imagens que capta são efémeras e podem desaparecer com os anos. Certo é que se queremos ter as melhores hipóteses de existir uma fotografia, a última coisa que precisa é de ser abanada. Aliás, nem mesmo as polaroids anteriores necessitam ser abanadas desde 1970. Curiosamente, esse é um reflexo perdurou até aos dias de hoje porque, nas primeiras versões da polaroid, o filme que saia era húmido – e tinha um cheiro pouco agradável – então agitar ajudava com os dois problemas, entretanto resolvidos.
Disperso-me.
É simples. Durante anos caixas de polaroids ficaram escondidas dentro de uma gaveta e recentemente ganhei coragem para lhes dar uso. Uma viagem parece sempre uma ocasião adequada. Os resultados começaram foram dececionantes. A primeira recarga resultou apenas em ténues manchas, as restantes, esboçaram imagens, algumas até bonitas.
Neste artigo, partilho algumas que prenderam a minha imaginação. Sem a poesia das bordas para que a imagem possa ter a sua voz. Há vezes tenho dúvidas se o que me encanta é a imagem, a deterioração, o objeto, ou o processo. Ou todas estas coisas juntas. Como se importasse.
Certo é que a sua verdade – ter na mão uma imagem que acabamos de captar, de algo que existiu à nossa frente – parece ser algo cada vez mais raro. A fotografia, enquanto tal, está em perigo, mas são métodos como a polaroid e a película que poderão ajudar a preservá-la.